As igrejas neopentecostais – que adeririam em peso à candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) – já acenam para o outro lado. Passados poucos dias da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições 2022, pastores evangélicos como Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, e Edir Macedo, da Igreja Universal, conclamaram fiéis a orar pelo novo presidente e disseram não ter resistência “pessoal”, tampouco “desejar o mal” ao petista.
Ainda no domingo (30), em meio à apuração dos votos, Malafaia tuitava que “A vontade soberana do povo se estabeleceu”. Dois dias depois, na terça-feira (1), o líder evangélico ampliou o recado.
“O cara ganhou? Meu papel é orar por ele – esse é o meu papel. Já fiz a oração aqui na igreja”, declarou Malafaia.
Na mesma entrevista, Malafaia rejeitou se somar ao golpismo bolsonarista. “Para contestar o resultado, tem que ter provas sobre provas, com muitas provas robustas, para dizer que houve fraude, né?”, afirmou. “Eu não embarco em aventura de ninguém sem provas. Essa é a minha posição”. Segundo o pastor, “venceu, venceu, perdeu, perdeu”.
Edir Macedo – que apoiou os governos Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro – pediu mais tolerância com o presidente eleito: “É isso o que o diabo quer – que o Brasil fique com ódio do Lula. Ele (o diabo) quer acabar com a sua fé e relacionamento com Deus por causa de outras pessoas”. Para o líder da Universal, é preciso reconhecer a escolha dos eleitores. “A maioria escolheu o Lula e nós não podemos ficar com mágoa”, disse Macedo nesta quinta-feira (3). “O Senhor fez a Sua vontade.”
Mais representantes evangélicos que apoiaram Bolsonaro saíram em defesa de Lula. “É preciso orar para que o Brasil cresça e reconhecer esse resultado”, pontuou o apóstolo Renê Terra Nova, da Igreja Internacional da Restauração, de Manaus. A seu ver, “vem aí o melhor Governo que a esquerda já fez”. Conforme o apóstolo Estevam Hernandes, da Renascer em Cristo, “Jesus nos deu o desafio de orar até pelos nossos inimigos. Em caso de política, não temos inimigos, mas sim divergentes”.
Em oito anos no Planalto, Lula colaborou com iniciativas de interesse dos neopentecostais, como a Lei da Liberdade Religiosa, o Dia Nacional do Evangélico e o Dia Nacional da Marcha para Jesus. Seu legado para o segmento parecia ignorado.