Ao decidir dizer que tomou “providências legais” para realizar uma “perícia independente” sobre a morte do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, o presidente Jair Bolsonaro ao mesmo tempo invade atribuições de governos estaduais e ajuda a confundir, a pretexto de buscar solucionar, o caso do ex-policial.
Cabe às autoridades baianas esclarecer se Adriano foi morto em uma ação policial de legítima defesa ou não. Bolsonaro disse ainda que, sem uma perícia “isenta”, não se explica crime nenhum, citando como exemplo a execução de Marielle Franco. Assim como na Bahia, o presidente acusa o governador do Rio, Wilson Witzel, outro rival político, de interferir na investigação sobre o assassinato da vereadora do PSOL.
Adriano teve a prisão decretada sob acusação de chefiar uma milícia em Rio das Pedras. Até onde se sabe, não tem relação com o caso Marielle. Era, porém, figura importante em outra investigação, esta a cargo do Ministério Público do Rio: a que apura a prática de rachadinha no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, onde a mãe e a ex-mulher de Adriano trabalharam até 2018.
Até o momento, são frágeis os argumentos para que ambas investigações sejam federalizadas. Não é a primeira vez que, entre os filhos e a impessoalidade que seu cargo exige, Bolsonaro escolhe os filhos.