Um cachorro morto boia no encontro do Rio Jacaré com o Canal do Cunha. A carcaça do animal passa lentamente enquanto a água pastosa corre em direção à Baía de Guanabara, deixando no ar um odor de embrulhar o estômago. Quinze garotos se aproximam, olham o cão na superfície. Dão de ombros. Henrique, magrelo de 14 anos que sonha ser DJ, é o primeiro a se posicionar. Toma distância, acelera e pula, caindo de cabeça no lodo após uma cambalhota. Eles nadam no lixo, em meio a fezes e à podridão despejada ao longo do curso. “Não tem problema, tio, é só fechar a boca e não engolir água“, ensina Guilherme, de 11 anos, que está ali escondido dos pais. “Sai daqui, Guilherme, você está fedendo“, diz Emilly, da mesma idade. Ela só mergulhou no Jacaré uma vez. Apanhou tanto da mãe que nunca mais entrou.
Quem mergulha garante que nunca teve nada de anormal, nem coceira, nem dor de barriga. Até o começo do ano, as crianças podiam escolher entre o rio e uma pequena piscina, de seis metros de comprimento por três de largura, onde todos se amontoavam. Mas o piso da piscina está aos pedaços, com todos os azulejos quebrados. Quando alguém inventa de encher o tanque, as crianças sempre se cortam.
“Aqui não tem área de lazer. Os próprios moradores compraram um piso novo para a piscina. Conseguimos doação de argamassa. Agora falta o poder público se mexer. Desde que eu me entendo por gente as crianças mergulham no rio. Teve um que morreu afogado, há uns 15 anos” — afirma Amanda Veridiano, de 26 anos, mãe de duas crianças.