O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, relatou ao juiz Marcelo Bretas, da Lava-Jato, que comprou por US$ 1,5 milhão o apoio do atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB) à candidatura de Eduardo Paes para prefeito em 2008.
Cabral deu detalhes do esquema de propinas da Fetranspor, que, segundo ele, surgiu na década de 1980, no governo de Moreira Franco, passando por Brizola, Marcello Alencar, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e, claro, o dele e de Luiz Fernando Pezão.
“Ele [Crivella] me liga e pede uma conversa no Palácio das Laranjeiras em 2008. Recebo à tarde/noite e ele me diz o seguinte: ‘Olha, estou sendo pressionado a apoiar o deputado Gabeira. Não é do meu agrado, pelas minhas convicções religiosas, visão do mundo. Mas o Armínio Fraga [ex-presidente do Banco Central], que estava muito exposto na campanha do Gabeira aparecendo na televisão pedindo voto, me ofereceu um milhão de dólares. E, então, vou apoiar o Gabeira se vocês não fizerem nada’. Eu e ele, sem testemunha. Eu falei: ‘Você me dá um tempo'”.
O tempo, segundo o ex-governador, foi para pedir dinheiro a Eike. “Eu falei [para o Crivella]: um milhão e meio de dólares, você aceita? Ele falou: ‘aceito'”, contou.
Cabral relatou também o suposto diálogo com Eike: “Eu preciso de um milhão e meio de dólares para dar ao Crivella, e tem que ser amanhã, porque o segundo turno já estava correndo. Aí ele falou ‘tudo bem, não tem nenhum problema, só que tem que ser muito cedo porque eu vou sair às 8 horas da manhã com esse grupão todo para o Açu’. Tudo bem, então 6 e meia da manhã na sua casa. Aí marquei com o Eduardo Paes na minha casa às 6, contei para ele a situação toda”.
Os citados
Gabeira disse que duvida que Crivella tenha dito isso a Cabral e que ignora qualquer negociação envolvendo a sua candidatura em 2008. “Ignoro esse fato, inclusive nunca vi tanto dinheiro na minha vida. Quem garante que o fato ocorreu? Eu duvido que tenha acontecido, porque nunca tivemos um milhão de dólares para a nossa campanha”, afirmou.
Gabeira disse ainda que Armínio Fraga nunca faria esse tipo de contato sem consultá-lo, e que nunca houve essa conversa entre eles.
Armínio Fraga afirmou que as informações de Cabral são mentirosas e não procedem.
Fernando Martins, advogado de Eike, informou que o empresário não é parte no processo e sempre desenvolveu suas atividades dentro da legalidade.
Em post no Facebook, Crivella chamou o relato de Cabral de “grande mentira”.
“Amigos, fiquei sabendo há pouco que o ex-governador Cabral disse que há 10 anos teria comprado meu apoio ao Eduardo Paes. Mais uma grande mentira plantada para tentar desestruturar a minha gestão e minhas convicções como homem público. Jamais conseguirão manchar a minha honra”, disse. Segundo Crivella, o apoio aconteceu porque Paes era o candidato mais alinhado aos evangélicos.
Procurada, a defesa de Paes não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem.