O mapa do saneamento no Brasil reflete e aprofunda a desigualdade do país. Dados do Instituto Trata Brasil mostram que trabalhadores que vivem em áreas sem acesso aos serviços básicos têm salários médios menores do que os que vivem em áreas com atendimento.
O mesmo acontece na educação, seja em anos de estudo ou até mesmo no resultado do Enem. Para especialistas, o aporte em saneamento pode melhorar o desempenho escolar de crianças e jovens e, na ponta, ampliar a produtividade e a renda do trabalhador.
“A marca da desigualdade no saneamento básico é muito clara. Talvez seja a política pública com distribuição mais desigual no país. As diferenças são nítidas se analisamos o serviço por região, por níveis de renda ou raça. Se o Brasil reiniciar os investimentos adequados no setor e olhar para essa população mais vulnerável, vai reduzir a pobreza e a desigualdade”, diz Léo Heller, pesquisador da Fiocruz Minas e relator especial da ONU para o direito humano à água e ao esgotamento sanitário.
Pouco mais da metade da população (53,2%) tem coleta de esgoto. Um recorte regional, no entanto, mostra que a cobertura acompanha a variação de renda. No Sudeste, a taxa chega a 79,2%, enquanto é de apenas 10,5% no Norte e 28% no Nordeste.
Serviço intermitente
Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria, destaca que o problema é mais grave do que pode ser percebido:
“O sistema atual, como está, vai resultar em mais duas gerações de brasileiros vivendo no esgoto. Dados oficiais falam em mais de 83% da população em moradias ligadas à rede de água. Não quer dizer água regularmente na torneira. Há gente que recebe água um dia da semana ou nem recebe. É um prejuízo enorme.”
Especialista em infraestrutura, Frischtak vê no saneamento uma ferramenta para melhorar os resultados em educação e no trabalho:
“O crescimento do país acontece com base em duas variáveis. Uma é a produtividade do trabalho, em que avançamos 0,65% ao ano. A outra é o crescimento da população em idade ativa, que, com a transição demográfica, vai começar a encolher. Ou seja, nosso potencial de crescimento é baixo e será decrescente. Para melhorar a produtividade, precisamos de saneamento e educação.”