O ano era 1985. O Brasil e o mundo passavam por grandes mudanças. Se fora do país a Guerra Fria caminhava para o fim, por aqui, a democracia engatinhava após um período de regime militar. Aquele que foi considerado o ‘Ano Mundial da Juventude’ pela ONU também foi marcado pelo nascimento do Rock in Rio.
Mas a primeira edição do festival reuniu diferentes gerações: mais de 1 milhão de pessoas passaram pela Cidade do Rock, na Zona Oeste da capital fluminense. Entre elas estava Ignêz Araújo. Hoje com 93 anos, a aposentada ainda lembra de um dos principais fatos do evento: a lama.
“Choveu muito, mas muito. E as pernas ficaram enterradas na lama. Estava um frio danado e todo mundo molhado. Andamos na lama do ponto de ônibus até o palco”, conta Ignêz.
O lamaçal que se formou devido às fortes chuvas que atingiram o terreno de 250 mil metros quadrados se tornou até mesmo item de colecionador. Hoje sinônimo de sucesso financeiro e o maior festival de música do Brasil, com edições realizadas em outros três países, o Rock In Rio nasceu de um sonho do empresário Roberto Medina. Mais do que um show, o publicitário afirma que o evento sempre teve como objetivo renovar a imagem da cidade como centro cultural e turístico, além de gerar empregos.
“Quando a gente teve aquela ideia de fazer um movimento, mais do que um evento de música, a gente estava terminando um período de ditadura militar e estava a esperança da democracia no ar, eu tinha que botar para fora a minha voz, a voz da juventude brasileira. Para fora do país e para dentro do país. Era um novo momento e eu acho que isso foi fundamental para as pessoas acolherem o meu sonho”, explica Medina.
Para transformar esse sonho em realidade, Medina enfrentou diversos problemas, desde brigas políticas à desconfiança de artistas internacionais. Antes do Rock in Rio, Van Halen e Kiss tiveram problemas como calotes e furto de equipamentos em shows no Brasil. Até mesmo uma profecia de Nostradamus o empresário teve que encarar.
Todos os problemas ficaram para trás quando no dia 11 de janeiro, com o verso “desperta, América do Sul! “, Ney Matogrosso abriu oficialmente a primeira edição do festival. Pelo palco, também passaram artistas para todos os gostos, como Queen, AC/DC, Rod Stewart, Moraes Moreira, Paralamas do Sucesso, James Taylor e Yes.
Um deles foi Elba Ramalho. A cantora paraibana conta que o calor do público fez toda diferença: “foi uma experiência artística e de vida também. Eu, como cantei na primeira noite, o estresse, o nervoso e a ansiedade dentro da gente eram muito grandes. A gente se deparou com uma plateia aberta, carioca, brasileira, receptiva, carinhosa”.
Para o jornalista Luiz Felipe Carneiro, autor do livro ‘Rock in Rio: a história do maior festival de música do mundo’, os shows colocaram o Brasil como destino certo de turnês internacionais: “a fama era muito ruim, teve artista que teve equipamento roubado. O Queen vinha tocar no Maracanã em 1991 e o governador, poucas semanas antes, falou que não ia ter show. Eu acho que o Rock in Rio mostrou para os artistas que era possível vir para cá”.
Pelas apresentações, pela lama ou simplesmente pela nostalgia. A primeira edição do Rock in Rio marcou diferentes gerações. Depois de 1985, foram mais 7 edições no Brasil e outras em Lisboa, Madrid e Las Vegas.
Como comemoração dos 35 anos do festival, a organização do Rock in Rio disponibilizou um curso sobre gestão de eventos e negócios, cuja primeira aula será ministrada por Roberto Medina.