A polarização política, acompanhada da crise institucional que o Brasil sofre, leva as pessoas às ruas de suas cidades; no entanto, dessa vez, o povo vai à rua não somente para criticar, mas também para apoiar.
No domingo, dia 26 de maio, o Brasil se viu novamente com diversas manifestações e “protestos” a favor do governo, em especial ao presidente Jair Bolsonaro e aos ministros Paulo Guedes e Sergio Moro. Milhares foram às ruas para defender diversas pautas do governo; no entanto, numa comparação rápida, nos atos contra os cortes na educação a mobilização ocorreu em 170 cidades, enquanto no apoio ao governo Bolsonaro, os protestos só alcançaram 140 cidades.
Por mais que nas ruas tivessem menos pessoas em comparação com os protestos do dia 15 de maio, a adesão a essa manifestação surpreendeu aliados e adversários do governo. Mesmo não conseguindo fazer um “tsunami verde e amarelo”, como ocorreu no momento do impeachment de Dilma Roussef, um número significativo de apoiadores compareceu às ruas.
Mas a principal dúvida de todos era se as manifestações iriam turbinar ou enfraquecer o governo; no final das contas, não se conseguiu sair da inércia num primeiro momento, mas, provavelmente, haverá reveses em momentos futuros que irão prejudicar o desempenho do governo do Bolsonaro.
O Presidente ainda tentou baixar o fogo do incêndio que ele mesmo provocou, dizendo que as manifestações eram espontâneas, mas diversos núcleos virtuais do governo e de parlamentares do PSL estavam convocando as manifestações, com a chancela do presidente, que continuava criticando a velha política e as velhas práticas. Ele tentou diminuir o tom e voltar as manifestações para um apoio às medidas do governo – como o pacote anticorrupção e a reforma da previdência -, mas não conseguiu, o que acabou trazendo para as ruas diversas críticas contra o STF e o Congresso Federal. No Rio de Janeiro, teve até um boneco do Rodrigo Maia, presidente do Congresso, usando a mesma vestimenta que aquele boneco usado nas manifestações contra Lula.

Usando o antigo lema “dividir para conquistar”, Bolsonaro aposta na radicalização política, voltando os “bolsonaristas” (ou bolsominions) contra seus opositores, como fez no período anterior às eleições para a Presidência em 2018, apostando em uma guerra ideológica contra a esquerda e criminalizando partidos com vertentes ideológicas antagônicas, como PT, PSOL e PCdoB. A tática funcionou, fazendo com que, hoje, um grande número de apoiadores se identifique com as pautas conservadoras feitas por Bolsonaro e Olavo de Carvalho.
Mas, ao atacar o Congresso e o STF, Bolsonaro estica o elástico da crise institucional que permeia o Brasil; diversas medidas provisórias estão hoje no Congresso, além de toda a tramitação da Reforma da Previdência, e os ataques servem somente para aumentar a rivalidade no governo. O próprio Rodrigo Maia já diz que pretende tocar uma agenda própria, independente do Palácio do Planalto.

Hoje, o Brasil se divide em 3 no ringue ideológico: no corner azul, militantes com o pensamento voltado para bolsonarismo; no corner vermelho, um antigo campeão, que é a base do PT; e, no centro, um outro pugilista, que geralmente define quem vai ser campeão: esse lutador é o terço da população de classe média, que durante anos, esteve com o PT, mas que após um momento de crise decidiu, nas eleições, apoiar o Bolsonaro, mas hoje se vê no centro novamente.
Quem votou simplesmente para remover a esquerda do poder, movidos pelo sentimento anti-Lula e antipetismo, está contente, mas a parte da população que votou achando que a economia iria melhorar e que empregos seriam criados, e hoje, após 5 meses de governo, se vê na mesma situação, está frustrada com a inabilidade política do governo, que se mostrou incapaz de promover questões básicas, trazendo o perigo da recessão de volta aos estudos e manchetes de jornais.

Os próximos episódios tendem a ser quentes para o governo; trazendo a pauta de que o congresso e o STF são os empecilhos para seu mandato ir bem, o Presidente aumenta ainda mais a crise institucional. No congresso, com uma base parlamentar que se resume a um pequeno grupo de Whatsapp com alguns deputados do PSL – o não sabemos se é por inabilidade ou por falta de vocação -, que hoje se preocupam mais com suas redes sociais do que com a articulação do governo.

No impressionismo geral, as manifestações contra o governo não conseguem também se posicionar no centro. Por mais que os protestos de 15 de maio tenham conseguido atrair diversos setores da sociedade para lutar contra os cortes da educação, há um engessamento das manifestações, que são cooptadas pelas bases de esquerda, atraindo centrais sindicais e o espírito de “Lula Livre”, que não conseguem superar os temas do passado; os protestos antigoverno não se adaptam a um país que hoje está mais voltado para a direita, diferente das diretrizes históricas de quando esses movimentos foram criados. Isso afasta parte do público, já que muitos dos presentes na manifestação tinham votado no Bolsonaro, apesar do eleitor médio do presidente tender a não sair da inércia do apoio cego (por inabilidade ou falta de querer).
É possível concluir, portanto, que nas ruas Bolsonaro provavelmente vai vencer, com os indicativos de que as manifestações convocadas pelas centrais anti-governo para o dia 30 de maio tendem a ser menores que a última, mas essa vitória, certamente, não vai se refletir no Congresso.