Ao contrário do enxadrismo, onde o Rei é a peça mais importante no jogo, quem comanda hoje o tabuleiro da cidade é o bispo Crivella, atual prefeito. No entanto, os revezes da partida mostram que o Xeque-Mate se aproxima a cada dia, e beira as vias da inevitabilidade.
Para um prefeito que conseguiu se eleger com folga (59,4% dos votos do segundo turno) para Prefeitura da capital em 2016, eliminando fortes concorrentes como Pedro Paulo (DEM) e Marcelo Freixo (PSOL), as sucessivas derrotas sofridas desde que assumiu o pleito mostram que sua força política foi superestimada, e sua capacidade de gestão é questionada mesmo por aqueles que lhe confiaram o voto.
Crivella assumiu uma Prefeitura na época da bonança: tendo sido sede de Jogos Olímpicos um ano antes da posse, diversas obras de infraestrutura e revitalização davam novo ar a diversos pontos da cidade; além disso, tanto o comércio quanto o turismo estavam aquecidos, os cofres públicos vinham com saldo positivo e a confiança do carioca estava em alta. O Prefeito parecia começar uma gestão sob robustas bases, e poderia, então, construir seu governo com mais tranquilidade que seu predecessor, que começou numa Prefeitura com rombo milionário nos cofres.
No entanto, não demorou para que seu governo começasse a fazer maus movimentos: ainda em 2017, o prefeito cortou verbas da cultura – em especial do Carnaval -, e a motivação para tal foi atribuída a uma espécie de Cruzada moderna contra o que a religião do bispo prega. Ainda guiado por suas crenças, Crivella também prometeu a fiéis de sua denominação prioridade na fila de cirurgias de catarata do SUS, benefícios fiscais e até mesmo a instalação de semáforos na porta de templos para facilitar a entrada de crentes aos cultos. A saúde enfrenta séria crise de abastecimento e diversas Clínicas da Família não tem mais atendimento, além das linhas de ônibus que misteriosamente desaparecem ou tem seus horários reduzidos. Mais recentemente, para piorar sua situação, Crivella deu polêmicas declarações acerca da política e da cidade, a que chamou de “esculhambação completa”.
O último pedido de impeachment – antes dele, foram três outros pedidos – tem por base alegada prorrogação de concessão sem licitação prévia, mas poderia ter se baseado em inúmeras outras razões. No xadrez da política, o bispo se perde nas próprias jogadas e, sem sequer peões para sua proteção, será engolido por seus próprios pecados.