Durante as últimas semanas, os holofotes se voltaram para um dos pilares do governo Bolsonaro: o atual ministro da Justiça Sergio Moro. Mas, ao contrário da recorrência de outrora, onde o ministro era visto com ares de ser o próximo paladino da justiça, quando puniu severamente dezenas de corruptos de partidos que faziam parte da situação nos governos Lula e Dilma, levando para prisão empresários, ministros, deputados e até mesmo o ex-presidente Lula.
Dessa vez, Moro foi pego como um pivô de um grande escândalo. Após o vazamento de mensagens privadas do ministro, veio à tona uma grande armação entre o MPF (Ministério Público Federal) e o então juiz de Curitiba, que provavelmente fez com que o presidente fosse condenado mais facilmente. O complexo assunto é espinho que mexe com diversos sentimentos, da esquerda à direita.
Demorei certo tempo para me debruçar sobre o tema, que revira um passado recente e faz eu ter reflexões sobre o que é certo e o que é errado. Para contar essa história, terei que contar um pouco da minha curta trajetória na política.
Após as eleições de 2014, eu me filiei ao PSDB, levado por um sentimento de revolta, que me fez ir às manifestações de junho de 2013 aqui no Rio de Janeiro, e também me levou à busca da prisão de diversos corruptos que sangravam a democracia dentro do governo do PT. Mas durante as próprias manifestações, onde nasceram os movimentos de rua de direita como MBL e Vem Pra Rua, tive uma sensação que o plano anticorrupção não era o pivô do protesto, que, na verdade, iniciava naquele momento uma “caça às bruxas” dos ideais de esquerda; por mais que eu não concordasse com muitas ideias, não poderia negar que no sistema democrático é natural a existência de opiniões antagônicas, fazendo assim nascer um debate de ideias, que constituem o cerne da democracia.
Essa caçada veio à tona após a queda da Dilma e a ascensão do Temer – o debate se foi golpe ou não, vou deixar para outro dia -, mas logo após outros escândalos apareceram, e o esvaziamento e silêncio das ruas vieram juntos. Com isso, a decepção: após as gravações vazadas de conversas entre Aécio Neves, um dos donos da Friboi e o ex-presidente Michel Temer, a cobrança ficou esquecida, como se todo o teor das manifestações anteriores fossem somente para tirar o PT do poder. A única pessoa que saiu inabalada, até o vazamento dessas mensagens, era o próprio Juiz Sergio Moro, que, na época, sustentava, com semblante de esperança, que realmente existe alguém na política sem algum desejo obscuro por trás das decisões.
Infelizmente o tempo mostrou o contrário: mais um paladino começa a desmoronar perante os olhos da sociedade, ou de parte dela; seus fieis seguidores que tornam qualquer sentimento parente a um salvador, como fazem com diversos membros da esquerda até hoje. Esse é o maior erro: a proteção incessante, por parte da sociedade, de líderes que, por mais que tenham feito boas coisas – como Lula fez durante parte da sua trajetória ao dar voz aos menos favorecidos, fazendo em seu primeiro governo alinhado com as ideias de bem-estar para aqueles que necessitavam -, acabaram se corrompendo para a simples manutenção do usufruto do poder. O mesmo ocorreu com o Moro: suas ações anteriores e coragem que teve de lutar com o grande mecanismo de corrupção que crescia como um câncer dentro do Brasil, não o torna menos malicioso no momento em que ele quebra o seu código de ética para se alinhar a uma “caça às bruxas” por interesse pessoal.
O maior problema está na população, com o seu protecionismo ideológico, incapaz de aceitar que até seus líderes podem errar, e continuam cegos defendendo o indefensável. Não podemos aceitar mais que, dentro da política, seja aceito o antigo ditado do “roubou mas fez”; os bons feitos não diminuem os erros, e vencer um debate nas redes sociais ou no sofá com a família não pode ser mais importante do que o desejo de vencer essa fase difícil, que dura décadas no Brasil.
Nesse momento, a autocrítica dos que apoiam tem que ser maior do que as falas de indignação daqueles que nunca apoiaram.
E esse pequeno desabafo vale para qualquer linha ideológica; enquanto a esquerda não conseguir enxergar e aceitar os erros de Lula e de toda sua turma, que pilhou os bens da sociedade, e no mesmo momento a direita, que durante muito tempo foi órfã ideologicamente, hoje se vê agarrada dentro dos ideais bolsonaristas e figuras como Sergio Moro, não iremos avançar.
Hoje, me sinto afastado dos ideais dos líderes do PSDB, que não tiveram coragem de ir contra Aecio Neves, e não conseguiram mais dialogar com a sociedade, que, por sua vez, também se ausentou de um debate plural e democrático.
Nesse jogo, onde partidos e ideias viraram times de futebol, o debate ficou esquecido e a tática virou vencer ou não perder, mas no final, todos perdem.