“Fantástico” reproduziu neste domingo (29), com exclusividade, escutas telefônicas que de acordo com a polícia são conversas entre milicianos sobre os resultados da ação que prendeu 159 pessoas durante uma festa em Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade. Passados 22 dias, 138 detidos foram soltos por falta de provas e os outros 21 serão denunciados pelo Ministério Público estadual.
Nos áudios obtidos pela reportagem, dois homens falam sobre o comportamento do principal alvo da operação batizada de Medusa: Wellington da Silva Braga, conhecido como Ecko. A polícia diz que ele era chefe do grupo conhecido como “Liga da Justiça” e assumiu o comando das milícias na região no ano passado.
[bs-quote quote=”A informação é que ele é um líder sanguinário, impiedoso, cruel, que mata sem qualquer pena e elimina os seus adversários e faz tudo isso com a vontade de angariar mais lucros e aumentar o seu território. Ele é um foragido da justiça, explicou.” style=”style-22″ align=”left” author_name=”Delegado Fábio Barucke” author_job=”Chefe do Departamento Geral de Polícia da Capital” author_avatar=”https://noticiariodorio.com.br/wp-content/uploads/2018/04/deleg.png”][/bs-quote]
Para a polícia, as conversas gravadas expõem informações importantes sobre o criminoso. Numa delas, um suspeito afirma que o “01” da organização criminosa (Ecko) não é inteligente e o compara com o irmão morto: miliciano conhecido como Carlinhos Três Pontes. O homem diz que Ecko “está com ódio” e revela que a fuga do sítio onde era realizada a festa ocorreu por “sorte”.
“Eu acho que o ’01’ lá tá com raiva porque mataram o irmão dele. Aí, eu acho que agora a ordem é pra poder ‘balaria’ mesmo. Então, esse maluco que tá agora lá, ele não ele não é inteligente, não, cara. Ele é meio que sanguinário, entendeu?”
“É, falaram que ele é pior que o irmão dele.”
“Pra tu ver, não pegaram ele. Deu sorte.”
Em outro trecho, os mesmos homens falam sobre as prisões no Sítio Três Irmãos e a perda de armas que foram apreendidas. Segundo a polícia, o evento era uma reunião de milicianos para comemorar uma aliança com outro grupo que domina regiões na Baixada Fluminense.
“Perderam 30 fuzis, pistola pra c…. Cara, o bagulho tem que ser num lugar, tipo assim, entocado. (…) É o que eu tô te falando, cara. Esses caras são idiotas. Esses caras que foram presos aí, tudo mané de segurança.”
‘Alto escalão’
Dos 159 presos, o Ministério Público MP comunicou que 21 deles serão denunciados por diversos crimes, a maioria por envolvimento com a milícia. Entre os que responderão a ação penal, a polícia e o MP indicaram que 11 pertenceriam a um “alto escalão” do crime organizado.
“Esses 21 nós temos elementos para deflagrar uma ação penal dizendo que realmente são participantes da estrutura criminosa. Quanto aos demais, vamos fazer uma análise mais aprofundada e nessa análise pode ser que surja mais alguém que possa ser incluído.”
Os crimes imputados a esse grupo são tráfico de drogas, roubo e apologia à milícia. Entre eles, a polícia diz que está Warley de Souza, apontado como chefe de grupo que atua em Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense. Veja abaixo a relação de presos e crimes pelos quais serão denunciados:
Tráfico de drogas – Gabriel Felix dos Santos
Roubo – Edgar Teixeira Filho, Gelson da Silva Marinho Filho e Ricardo Oliveira da Silva
Apologia à milícia – Matheus de Oliveira Bernardo Cardoso, Reinaldo Willian Freitas Guimarães, Theyvison dos Santos Euzebio e Gelson da Silva Marinho Filho.
Além desses, outros três presos são acusados de colaboração com a milícia: Júlio César Brandão, Lucas Pinheiro de Souza e Wallace Martins Araújo.
E mais 11 são acusados pela polícia de integrar o alto escalão da organização criminosa:
- Marco Aurelio de Chagas de Oliveira Andrade
- Maurício Alves de Oliveira
- Rafael Estefano de Almeida Moreira
- Renato dos Santos Venancio Seipel
- Renato Silverio de Sousa
- Viníciois Maia Mendes
- Alexandre Alves Canellas
- Cristiano Lima de Oliveira
- Wanderson Luiz Gomes Nascimento
- Warley Paul Mansur de Souza
- Wladimir Wellington da Silva e Souza
Operação questionada
A Defensoria Pública questionou a operação. Uma das principais críticas do órgão é que, do total de presos (159), apenas sete, cerca de 5% dos detidos, integrava de fato algum grupo criminoso.
“O que nós verificamos é que era um show, um espetáculo musical com ingressos à venda, com bandas de músicas conhecidas. As pessoas da comunidade tinham essa alternativa de lazer, de diversão”, frisou o defensor público-geral do Rio, André Luis de Castro.