Após as ultimas declarações do presidente, se referindo a fome, nordeste, nomeação do filho na embaixada, que já se acumulam com diversas outras tiradas nesse curto período de governo – e antes mesmo de assumir o poder executivo – me peguei em uma “previsão do passado”.
Na eleição de 2018, uma única coisa era comum entre todos os brasileiros: o descontentamento com a gestão pública e os diversos escândalos de corrupção que atingiam o país; principalmente aqui no Rio de Janeiro, onde conseguimos a proeza de ter governadores, deputados e presidentes da Assembleia Legislativa envolvidos em corrupção. Chegamos ao ponto em que até membros do Tribunal de Contas do Estado estavam envolvidos na roubalheira.
No mesmo momento, estávamos acabando de sair de um impeachment conturbado, de uma economia em declínio e o desemprego crescente. A receita do caos estava instaurada; faltava apenas um ingrediente, um catalizador. E esse catalizador surgiu: um parlamentar do baixo clero da Câmara Federal, que já rondava a política há anos, que desde 1988 frequentava a Câmara dos Vereadores da capital carioca, que conseguiu navegar nas ondas das redes sociais com os discursos da nova política, mesmo estando lá antes mesmo do seu grande antagonista conseguir assumir o Poder Executivo federal.
Com toda a indignação com a classe política finalmente conseguisse ganhar forma, mesmo que ironicamente escolhendo um dos velhos nomes do cenário nacional, mas não foi a primeira vez o Brasil viu isso acontecer.
Aqui no Rio de Janeiro, há cerca de 30 anos, tínhamos uma figura que também surgiu para consolar os cariocas da dor e ódio que sentiam após grande tempo com gestões ruins. E não estou falando de nenhum vereador, deputado ou empresário local, mas sim de um nome muito popular, porém não tão tradicional.
Dentro do zoológico carioca morava o candidato mais bem falado nas eleições de 1988, o macaco Tião, ou Tião Independente como preferir, uma brincadeira que surgiu em forma de criar voto de protesto com os nomes comuns que já rondavam as eleições para prefeitura do Rio, entre eles Marcello Alencar (PDT), Jorge Bittar (PT) e Artur da Távola (PSDB). O nome do candidato inusitado ganhou força com apoio do Fernando Gabeira (PV), que era deputado na época.
A campanha popular foi tão grande que muitas pessoas começaram a pedir votos para o chimpanzé mais querido do Rio; foi elaborada até uma entrevista, virou capa de jornal e ganhou a boca do povo, conseguindo reunir mais de 400mil votos, sendo o terceiro mais votado na eleição.
Em 2018 não foi diferente: o descontentamento, a falta de perspectiva nos nomes tradicionais e a vontade de renovar a política a todo custo trouxe o nome de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil. Entre chimpanzés, robôs multiplicadores de likes e minions, a candidatura do homem que, outrora, era motivo de piada nos programas humorísticos da TV aberta, foi inflada e ganhou uma força tão descomunal que venceu a eleição.
O problema do voto de protesto está justamente no fato de que, quando pensamos com a revolta, colocamos chimpanzés no poder, e deixamos a racionalidade de fora. Quantos candidatos mais qualificados, em todos os sentidos, poderiam estar ocupando a cadeira do rei desta selva chamada Brasil?
Se o macaco Tião teria feito melhor pelo Rio de Janeiro do que Marcello Alencar, não sabemos. Mas, certamente, estamos sentindo o amargo sabor de ter deixado nosso chimpanzé de estimação sair de sua jaula. Agora, temos que aguentar as macaquices.