Em depoimento na Câmara de Vereadores, um funcionário da Comlurb relatou distribuição de “santinhos” de Marcelo Hodge Crivella Filho, filho do prefeito Marcelo Crivella, em reunião de servidores da companhia convocada pela prefeitura.
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito investiga se houve uso da máquina pública do município para pedir votos na campanha de “Crivellinha”, então candidato a deputado federal.
O Bom Dia Rio teve acesso a depoimentos à CPI de servidores e gerentes da Comlurb que foram convocados ao evento, em setembro do ano passado, na quadra da escola de samba Estácio de Sá. Quase 300 pessoas estavam na plateia.
Em sessão da CPI na semana passada, o motorista Roberto Pessoa dos Santos contou que, após a reunião, viu funcionários com material de campanha. “Dentro do ônibus, quando eles retornaram, tinha um monte de panfletinho do filho”, afirmou.
O servidor explicou que muitos largaram os santinhos ali mesmo. “Deixaram dentro do ônibus, e ali eu que tive que dar destino. Tinha mais de 100 panfletinhos do Marcelo Crivella”, disse.
Motoristas da companhia também disseram que no dia da reunião precisaram entrar antes do horário. “Me ligaram para pegar mais cedo, porque a gente tinha que levar para a reunião, porque não tinha outra viatura”, contou Luciano Oliveira da Silva.
Comício em reunião
Na sessão desta terça-feira (26), dez gerentes da Comlurb foram ouvidos pela CPI. Eles disseram que não sabiam que a reunião na quadra da Estácio se tratava de um encontro político.
“O intuito do evento que nos falaram era que iriam falar sobre o 14º, sobre uma série de coisas, que algumas pessoas não tinham ganho e isso seria esclarecido”, falou um. “Se nós entendêssemos que era um evento político, nós não compareceríamos. Até porque nós somos apolíticos”, emendou.
Impeachment
No evento, Crivella pediu “humildemente” votos para o filho, que não se elegeu.
“Eu vim aqui pedir a vocês humildemente. Não é o prefeito que tá pedindo. Nem é o pai do Marcelinho. É o carioca”, discursou o prefeito.
Agora, os superintendentes da Comlurb serão ouvidos pelos vereadores.
“Acho que nós já temos elementos suficientes que podem levar a um pedido de impeachment do prefeito”, afirmou a vereadora Teresa Bergher (PSDB), presidente da CPI.
“Vários candidatos do prefeito estavam lá. Essa CPI vai terminar claramente mostrando que essa reunião é política”, emendou Paulo Pinheiro (PSOL). “Vão ter que ser punidos os responsáveis por tratar o serviço público como se fosse o serviço privado deles”, frisou.
O que dizem os envolvidos
Em nota, a Comlurb afirmou desconhecer haver santinhos dentro do ônibus no fim do evento.
A prefeitura informou que não vai se pronunciar sobre o andamento dos trabalhos da CPI.
Votação indireta rejeitada por um voto
Nesta terça-feira (26), a Câmara votou um projeto de emenda à Lei Orgânica do Município que poderia ampliar o prazo para os parlamentares elegerem, indiretamente, um novo prefeito em caso de impeachment do prefeito. A proposta, entretanto, foi rejeitada por um voto.
A proposta precisaria de 34 votos para passar. Trinta e três vereadores votaram a favor, 15 contra e um se absteve.
Atualmente, a legislação municipal prevê que os parlamentares possam escolher um novo prefeito apenas se o cargo ficar vago nos últimos 12 meses do mandato. Antes disso, novas eleições deveriam ser convocadas.
O texto da proposta apresentada definia que o prazo passaria a dois anos. Ou seja, se o atual prefeito Marcelo Crivella (PRB) sofrer o impeachment, os vereadores poderiam já eleger, indiretamente, um novo prefeito.