Os filhos, a nora e a mulher de Marcelo Crivella (PRB) circulam pela cidade em carros alugados pelo município, dentro do contrato que atende o gabinete do prefeito. A denúncia é da vereadora Teresa Bergher (PSDB), com base em uma resposta da própria prefeitura a um requerimento de informações que ela enviou ao Executivo no ano passado, e foi veiculada nesta terça-feira pelo “RJ-TV”, da TV Globo. O município informou que o contrato vigora até hoje.
Em nota, a prefeitura argumentou que os veículos vêm sendo empregados pela família por orientação da Coordenadoria Militar e que não se trata de um privilégio, mas de uma medida de segurança.
— É, no mínimo, imoral que a família do prefeito use carros alugados com dinheiro público, enquanto faltam recursos para gastos essenciais, como nos hospitais. Nada justifica essa mordomia — disse Teresa, que vai encaminhar representação ao Ministério Público para que o órgão avalie se cabe uma ação por improbidade administrativa.
O município, por sua vez, rebateu a acusação por meio de nota. O texto explica que um decreto do próprio Crivella, assinado em 28 de maio de 2018 (posterior ao envio do requerimento de informações feito pela vereadora), abriu caminho para o uso de carros da prefeitura pelos parentes do prefeito. Um dos pontos do decreto atribuiu à Casa Militar “incumbir-se das providências necessárias quanto ao uso dos diversos meios de transportes à disposição do prefeito e de autoridades municipais’’, bem como controlar as atividades relacionadas com a segurança do prefeito e seus familiares nos limites da cidade do Rio.
Dois carros blindados compunham a frota
O documento enviado à vereadora não detalha quantos veículos estão à disposição da família de Crivella. Informa apenas que são de três modelos, dois deles blindados. Pelos carros sem motorista (quem dirige são integrantes da Coordenadoria Militar), a prefeitura pagava R$ 36,1 mil mensais em 2018, já incluída a despesa com combustível. Só o carro a serviço de Crivella custava R$ 12 mil mensais. Todos os veículos ficam à disposição tanto do prefeito quanto de sua família 24 horas por dia.
— Além do prefeito, só a esposa dele poderia usar carro alugado com dinheiro público. Filho, nora e filha não podem. Isso fere o princípio da moralidade administrativa que deve pautar o comportamento de qualquer agente público — disse Hermano Cabernite, advogado especializado em Direito Administrativo, em entrevista à TV Globo.
A prefeitura afirma ainda, na nota, que foram adotados parâmetros semelhantes aos adotados na segurança do presidente da República, Jair Bolsonaro, do vice-presidente Hamilton Mourão e de suas famílias. Ainda segundo a nota, essas regras são seguidas por outras prefeituras e governos do país. Entre os usuários dos carros estão a primeira-dama Sylvia Jane e o filho Marcelo Hodge Crivella. Ex-candidato a deputado federal em 2018 (ele não conseguiu se eleger), Marcelinho protagonizou uma polêmica logo no início do governo do pai. O prefeito decidiu nomeá-lo secretário da Casa Civil, mas ele ficou pouco tempo no cargo. Foi afastado por uma liminar em uma ação no Supremo Tribunal Federal sob a suspeita de nepotismo. A irmã e a mulher de Marcelinho, Raquel e Maressa Crivella, respectivamente, também usam carros pagos pela prefeitura.
O documento enviado à vereadora mostra ainda que a família do vice-prefeito Fernando Mac Dowell também faziam uso da frota alugada. Os veículos estavam à disposição da mulher dele, Ângela, e do filho João. Os carros foram devolvidos após a morte do vice-prefeito, em maio de 2018.
Segundo o relatório, também têm direito a usar a frota a chefe de gabinete, Margareth Cabral, o procurador-geral do município, Marcelo Marques, e o coordenador de Diversidade Sexual da prefeitura, Nélio Georgini. Também há veículos à disposição da Obra Social, da Subsecretaria de Comunicação Social e das coordenadorias de Relações Internacionais e de Promoção de Eventos.
A empresa que aluga os carros é a CWL, que mantém três contratos com a prefeitura. Ela também fornece veículos para a Secretaria municipal de Fazenda e para as administrações regionais.