A servidora Márcia Nunes foi ouvida nesta terça-feira (19) em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Vereadores do Rio que investiga irregularidades no Sisreg – o sistema que regula o atendimento em hospitais do município.
Funcionária da companhia de lixo do Rio, a Comlurb, Márcia ganhou notoriedade no episódio que ficou conhecido como “Fala com a Márcia”, em que o prefeito Marcelo Crivella (PRB) indicou o nome dela a líderes religiosos como uma forma de agilizar o atendimento na rede municipal de saúde.
Nesta terça, ela minimizou sua participação no “Café da Comunhão”, reunião entre o alcaide e líderes evangélicos, na qual foi oferecida ajuda no encaminhamento de pacientes de catarata a cirurgia, na mudança da localização de pontos de ônibus e na obtenção de isenção de IPTU, entre outras benesses.
Segundo ela, chegou com o evento já em andamento e estava lá apenas para ajudar a orientar quem não sabia como entrar para fila do Sisreg.
Porém, em áudio gravado pela reportagem, Crivella foi muito mais enfático sobre o poder de fogo da assessora:
“Então se os irmãos tiverem alguém na igreja com problema de catarata, se os irmãos conhecerem alguém, por favor falem com a Márcia. É só conversar com a Márcia que ela vai anotar, vai encaminhar, e daqui a uma semana ou duas eles estão operando”, declarou, na ocasião.
Márcia confirmou ser a primeira vez que trabalha na prefeitura. Antes disso, dava expediente no Senado, no antigo gabinete de Crivella.
A coordenadora técnica da Comlurb afirmou que, atualmente, toca o projeto “De bem com a vida”, voltado a funcionários da companhia com dependência química.
“Já acompanhei (o prefeito) várias vezes em eventos, até porque, quando o prefeito tem agendas externas, surgem agendas ligadas à Comlurb”, disse ela.
Ao depor em CPI, Márcia diz que é comum Crivella pedir a assessores que anotem pedidos:
– Se não fosse eu (naquela reunião), ele teria falado com outra pessoa. Ele sempre fala: ‘Fala aqui com fulano’, e sai (de perto) – disse Márcia, nomeada por Crivella para atuar em cargo comissionado como coordenadora técnica da Comlurb.
A servidora, que admitiu ter trabalhado na campanha de Crivella à prefeitura em 2016, negou ter atuado para furar a fila do Sisreg em beneficio de algum indicado do prefeito.
– Eu não tenho acesso ao Sisreg, nem à Secretaria de Saúde. Nunca marquei nenhuma cirurgia. Não possuo a senha do Sisreg e nunca tive.
Indagada pela vereadora Rosa Fernandes (MDB) se Crivella a indicava apenas para “se livrar das pessoas” que faziam pedidos, Márcia não deu uma resposta assertiva. Na saída, jornalistas a interpelaram sobre essa questão, mas a servidora preferiu não dar entrevista. Ao GLOBO, o advogado da Comlurb, Carlos Macedo, que acompanhou Márcia durante o depoimento, afirmou:
– O prefeito falava para a Márcia anotar os pedidos para que, depois, ela desse o encaminhamento adequado para cada caso. Dizer qual a unidade hospitalar adequada para cada situação, mas sem desrespeitar a fila do Sisreg.