Vez em quando decido dar uma olhada nos índices de desenvolvimento dos bairros do Rio de Janeiro para tentar entender o por quê das negligenciais históricas por parte dos poderes públicos em relação aos subúrbios. Essas negligências proporcionaram uma falta de identidade marcante no imaginário carioca suburbano quando se vende na mídia um ideal de cidade voltado apenas para as praias. Para termos um parâmetro de desigualdades, coloco lado a lado Santa Cruz e Gávea. Parece desonesto de minha parte, mas vamos entender ao longo do texto.
Quando li pela primeira vez que a mortalidade por AVC é dez vezes maior em Santa Cruz do que na Gávea, vi que todos se faz mais do que necessário exigirmos maior atenção dos futuros candidatos à prefeito e vereadores do município para uma descentralização das oportunidades dentro da cidade. Falo isso como usuário do transporte público e cidadão que precisa se deslocar por, aproximadamente, duas horas até o centro da cidade ou à Zona Sul.
Os números não mentem. Segundo fontes do IBGE disponibilizadas no site WikiRio, ao compararmos os bairros em questão no que diz respeito à expectativa de vida, percebemos que quem vive em Santa Cruz tende a viver aproximadamente 15 anos a menos do que quem mora na Gávea. E avançando nos números, a renda per capita de um cidadão carioca morador de Santa Cruz é menos de 10% da renda média de um morador da Gávea.
Os números impressionam, não? E impressionam ainda mais se somarmos Santa Cruz a Campo Grande, o bairro mais populoso do Brasil: somadas as rendas per capita dos dois chega a, aproximadamente, 26% da renda da Gávea.
Isso nos mostra uma concentração de renda bruta e que impede que oportunidades sejam distribuídas pela cidade de forma justa. A maior concentração de pessoas se encontra na Zona Oeste, mas a área tem poucos acessos à emprego, por exemplo, fazendo o que seus moradores precisem fazer um longo deslocamento até os bairros que concentram essas oportunidades.
O grande desafio para a próxima bancada do legislativo e da administração municipal que sair vitoriosa das eleições de 2020 é responder a uma pergunta: como amenizar esse impacto sobre a vida dessas pessoas, que perdem quase um dia por semana dentro do transporte? São horas perdidas de qualidade de vida e de convivência com sua família.
Minha sugestão é dinamizar as atividades comerciais pela cidade, aproveitando o potencial de cada região específica, para que suburbanos e suburbanas desfrutem do mesmo direito à cidade do que um morador da Gávea.