O ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio de Janeiro (Fetranspor) Lélis Teixeira afirma em delação premiada ter feito pagamentos de propina e doações irregulares para financiar campanhas eleitorais de diversos políticos do Rio de Janeiro. Entre os delatados está ate o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB).
O jornalista Lauro Jardim, do Globo, teve acesso à íntegra da delação de Lélis. Segundo Jardim, existe um capítulo inteiro dedicado a Crivella. O deletador diz que a relação do bispo Crivella com o setor de transportes começou em 2004, quando ele e Jacob Barata Filho foram recebidos pelo então senador, em sua casa, no Rio de Janeiro, para um café da manhã.
O encontro de Marcelo Crivella foi intermediado pelos então vereadores Lilian Sá e Jorge Mauro, e na reunião, Crivella apontou Mauro Macedo — primo de Edir Macedo — como seu interlocutor. Mauro semanas depois teria procurado a Fetranspor pedindo uma contribuição para a 1ª campanha de Crivella a prefeito, em 2004. O pagamento teria sido efetuado, mas Lélis diz não lembrar o valor.
Lélis conta ainda que, em 2010, desta vez na campanha para a reeleição ao Senado, Mauro Macedo pediu doação, e a Fetranspor teria contribuído com R$ 450 mil. E não parou por ai.
Em 2016, quando Marcelo Crivella foi eleito à prefeito do Rio, também houve doação, mais uma vez via Mauro Macedo, doação contabilizada em R$ 2,5 milhões. Desse montante, R$ 300 mil foram devolvidos a Fetranspor, que comprou um equipamento para um hospital público carioca.
Em abril deste ano, Crivella já tinha sido citado em uma matéria da revista Veja, na qual, Barata Filho, relatava em sua delação repasses de 5,2 milhões de reais ao prefeito do Rio. Na época, Crivella disse ser ‘Fake News’ e a assessoria do empresário alegou que nunca tinha acusado o atual alcaide. Apesar disso, as informações foram, agora, confirmadas na delação de Lélis Teixeira.
Outros políticos citados por Lélis
Luiz Fernando Pezão (MDB)
A delação aponta também que, nas mesmas eleições, Luiz Fernando Pezão, do MDB, recebeu R$ 30 milhões da Fetranspor e que parte dos pagamentos foi em dinheiro.
No entanto, segundo Lélis Teixeira, o ex-secretário de obras, Hudson Braga, solicitou a Lavouras que outros pagamentos fossem realizados pela Fetranspor a empresas que teriam prestado serviços a campanha de Pezão.
Carlos Roberto Osório (PSDB)
O outro nome é o de Carlos Roberto Osorio, atualmente no PSDB, que também foi secretário municipal de Transportes. Ele teria recebido entre R$ 160 mil a R$ 200 mil por mês, de 2012 a 2015.
Anthony Garotinho
Outro citado na delação é o ex-governador Anthony Garotinho. Lélis Teixeira afirma que, durante uma reunião em 2010, Anthony Garotinho, atualmente sem partido, solicitou o pagamento de R$ 30 mil mensais a pretexto de patrocínio para seu programa de rádio.
O delator afirma que José Carlos Lavouras – ex-conselheiro da Fetranspor, atualmente foragido em Portugal – concordou com o pagamento do valor solicitado e que ficou decidido que nem o nome da Fetranspor, nem o de nenhuma empresa de ônibus seria citado durante o programa.
Lélis Teixeira afirmou ter repassado mais R$ 4 milhões da Fetranspor, na campanha seguinte, em 2014, quando Anthony Garotinho foi candidato a governador.
Eduardo Paes (DEM)
O ex-prefeito Eduardo Paes também é citado. O delator afirmou que ele recebeu R$ 40 milhões em 2012 para a campanha de reeleição. O deputado federal e ex-secretário Pedro Paulo teria ficado com R$ 10 milhões para sua campanha à prefeitura do Rio em 2016.
Julio Lopes (Progressista)
Segundo Lélis Teixeira, Julio Lopes recebeu R$ 7,9 milhões de forma ilegal quando secretário de transportes do estado. O pagamento foi feito em mesadas de R$ 100 mil e em um contrato fictício com um escritório de advocacia, no valor de R$ 900 mil.
No Legislativo
Na Câmara do Rio, o ex-presidente da Fetranspor disse que 15 vereadores e ex-vereadores teriam recebido de R$ 6 mil a R$ 8 mil por mês pra defender interesses do setor e impedir o avanço de CPIs que investigassem as empresas de ônibus.
Entre eles, segundo a delação, está os ex-presidentes da casa, Sami Jorge, que já morreu, Ivan Moreira, atualmente conselheiro do Tribunal de Contas do Município, e o atual presidente Jorge Felippe, do MDB.
Lélis Teixeira afirma ter pago propina também na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, citando oito deputados e ex-deputados na delação.
No grupo, os ex-presidentes Jorge Picciani e Paulo Melo – os dois do MDB – e presos pem 2017 acusados de terem recebido dinheiro da caixinha da Fetranspor.
O que dizem os citados
David Barata
O empresário negou as alegações feitas por Lélis Teixeira e afirmou que não irá se manifestar sobre a “suposta delação cujo conteúdo não teve acesso”.
Júlio Lopes
O político afirmou que é alvo de “injustas acusações” e que, mesmo inocentado, teve os bens bloqueados e o nome “injustamente exposto por quase uma década”. Também ponderou que “o combate a corrupção é pauta sensível a toda sociedade, mas devemos ter o cuidado de não generalizar”.
Confira a nota na íntegra:
“Infelizmente as autoridades públicas vêm sendo criminalizadas, indiscriminadamente. Não é a primeira vez que sou alvo de injustas acusações, tive meus bens bloqueados e meu nome injustamente exposto por quase uma década no caso do “bondinho”, mesmo sendo inocentado fato reconhecido em sentença judicial neste ano, fui acusado apenas por ser ter sido a única autoridade que prontamente compareceu ao local e se colocou à disposição das vítimas. Por fim, o combate a corrupção é pauta sensível a toda sociedade, mas devemos ter o cuidado de não generalizar”.
Eduardo Paes
O ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes afirmou que a prestação de contas na campanha de 2012 teve “todas as doações declaradas e foi aprovada pela justiça eleitoral”. E que “é lamentável que tenhamos que responder a acusações sem conhecer o teor delas”.
Pedro Paulo
O deputado federal Pedro Paulo afirmou que “todos os valores doados durante a campanha de 2016 foram devidamente declarados, e a prestação de contas foi aprovada na Justiça Eleitoral. Lamento ter que responder a acusações levianas que desconheço”.
Carlos Alberto Osório (PSDB)
Procurada, a defesa de Carlos Alberto Osório não retornou até a última atualização desta reportagem.
Paulo Mello
A defesa do ex-deputado afirma que ele “sempre negou o recebimento de valores a título de propina”.
Garotinho
A defesa do ex-governador afirma que as informações dadas por Lélis Teixeira “são completamente descabidas e inverídicas, movidas unicamente por um desejo de vingança”.
Confira a nota na íntegra:
“A defesa de Anthony Garotinho afirma que, logo que o ex-governador assumiu o governo do estado, em 1999, ele determinou a redução das passagens de ônibus na Região Metropolitana do Rio de Janeiro com base em estudos técnicos. Foi também Garotinho quem legalizou 4 mil vans para transporte interestadual.
Está claro, portanto, que as informações dadas por Lélis Teixeira a respeito do ex-governador são completamente descabidas e inverídicas, movidas unicamente por um desejo de vingança.
Garotinho sempre foi implacável com as empresas de ônibus, exigindo a prestação de serviço adequado das empresas de ônibus para a população”.
Luiz Fernando Pezão (MDB)
A defesa do ex-governador negou o recebimento de qualquer valor a título de propina.
Marcelo Crivella e Mauro Macedo:
O atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB/Republicanos) afirmou que “é lamentável ver a imprensa sendo usada como massa de manobra para atender a interesses claramente eleitorais” e que “se existe um político que não poderia ter se beneficiado de algum esquema com os empresários de ônibus, este político é Marcelo Crivella”.
Confira a nota na íntegra:
“É lamentável ver a imprensa sendo usada como massa de manobra para atender a interesses claramente eleitorais.
Ainda mais neste momento, em que o prefeito Marcelo Crivella enfrenta um dos grupos empresariais mais poderosos do país, tentando cessar a sangria de verbas públicas provocadas por um contrato abusivo de exploração do pedágio da Linha Amarela.
Também é de se estranhar que a Revista Crusoé publique uma matéria com denúncias tão sérias sem ouvir o prefeito Crivella, como mandam os manuais do bom jornalismo, que parecem estar dormindo nas gavetas da redação.
Até porque vários outros citados tiveram espaço para suas defesas na matéria…
Não é a primeira vez que a oposição usa a imprensa para divulgar denúncias falsas tentando ligar o prefeito do Rio a políticos e empresários corruptos, mas nunca conseguiram provar nada contra ele. Será mesmo que o senhor Lélis Teixeira fez essa acusação?
Onde estão as provas?
Da última vez que a imprensa tentou fazer tal covardia contra a honra do prefeito levou um desmentido do próprio suposto denunciante, no caso, outro empresário de ônibus, Jacob Barata.
Se existe um político que não poderia ter se beneficiado de algum esquema com os empresários de ônibus, este político é Marcelo Crivella.
O embate virou uma disputa judicial, ganha por Crivella.
E hoje o município tem uma passagem de R$ 4,05 reais, uma das menores entre as capitais do porte do Rio.
Em São Paulo, por exemplo, a tarifa é de R$ 4,30 e o governo já pagou mais de R$ 9 bilhões em subsídios para manter o valor em patamares mais baixos.
Todas as contas de campanha de Crivella foram devidamente aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Eleito para a Prefeitura do Rio, realiza uma gestão austera com os gastos públicos, sem qualquer denúncia de corrupção.
O atual conselheiro do Tribunal de Contas do Município afirma desconhecer o teor da delação e que está “com consciência tranquila e a disposição para quaisquer outros esclarecimentos”.
Confira a nota na íntegra:
“Desconheço o teor da delação, mas posso afirmar que sempre agi dentro da legalidade e moralidade, em defesa do interesse público.
No caso específico das empresas de ônibus, vale ressaltar que determinei ao executivo que se abstivesse de realizar a revisão de tarifa até o término da auditoria, bem como recomendei a instalação de ar condicionado nos ônibus, dentre outras medidas, que contrariaram interesses do próprio setor de transportes.
Ressalto ainda, que quanto ao rateio das gratuidades, esta questão foi equacionada através do Poder Discricionário do Chefe do Poder Executivo Municipal dentro de suas atribuições.
Estou portanto, com consciência tranquila e a disposição para quaisquer outros esclarecimentos”.
Jorge Felippe
A defesa de Jorge Felippe afirma que “contrariando as mentiras do delator, Jorge Felippe esclarece que deferiu as CPIs da Rio Ônibus de 2013 e de 2017, e sempre colocou em pauta e votou a favor de projetos contra as empresas de transportes. O que não deixa dúvida sobre a lisura de seus atos”.
José Carlos Lavouras
O ex-conselheiro da Fetranspor afirma que “a delação vazada do senhor Lelis impressiona pela quantidade de mentiras e invenções. Difícil de acreditar que tal acordo, pela desfaçatez do delator, tenha sido aceito.”
Fetranspor
Em nota, a Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) esclareceu que a atual administração desconhece a ocorrência de “supostos fatos relacionados à gestão anterior, não tendo tomado conhecimento de quaisquer pagamentos realizados com o intuito de obtenção de benefícios para o setor”.
Confira a nota na íntegra:
A Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) vem a público esclarecer que:
1) Lélis Teixeira foi presidente-executivo da Fetranspor entre 2010 e 2017. O executivo também presidiu o Rio Ônibus entre 1999 e 2017;
2) A atual administração da Federação – que tomou posse em setembro de 2017 – desconhece a ocorrência de supostos fatos relacionados à gestão anterior, não tendo tomado conhecimento de quaisquer pagamentos realizados com o intuito de obtenção de benefícios para o setor;
3) A Fetranspor tem desenvolvido uma profunda reestruturação interna, com o estabelecimento de uma rígida política de conformidade e integridade, além do fortalecimento de sua administração com uma moderna e ativa governança corporativa;
4) Ao assumir o comando da instituição, o atual presidente executivo – um profissional de mercado sem qualquer ligação com o setor de transporte por ônibus – promoveu uma ampla revisão sobre todos os contratos vigentes, de modo a rescindir aqueles que porventura apresentassem possibilidade de questionamentos internos ou externos;
5) A Federação reafirma seu compromisso com o atual modelo de gestão, que prioriza a transparência de seus atos, a valorização dos controles internos e o respeito às normas que regulam o setor;
6) A Fetranspor está comprometida em colaborar com as investigações em andamento e cumprir as determinações judiciais, permanecendo à disposição das autoridades para todos os esclarecimentos que se façam necessários”.