Nem sempre consigo acompanhar as tendências musicais que permeiam o cenário fonográfico brasileiro. Com tantos lançamentos nos canais digitais, acabo às vezes ficando preso no trivial, que são artistas que já conheço e admiro musicalmente. No entanto, Anavitória, duo que eu já conhecia, mas pouco tinha escutado me chamou atenção pelas letras e principalmente pelas melodias que mostram que elas ‘não estão de passeio na música’ e sim, vieram para ficar de vez. “O Tempo É Agora (2018)”, segundo álbum que quebra o jejum de dois anos sem inéditas, conseguiu unir elementos importantíssimos para o sucesso, como, melodia, letras e voz. Aliás, no quesito voz e letra elas desbancam muitos artistas da atualidade e podem servir como exemplo para os que querem aprender a fazer composições marcantes de verdade. Lembrando que o talento é tanto, que elas são donas de um Grammy Latino, parceria com Tiago Iorc em “Trevo (Tu)”.
O álbum traz 11 faixas e já na primeira música elas já demonstram tamanho profissionalismo. Com a música “Aí Amor”, elas deixam claro que estão surfando por novas referências musicais. ““Ei, fiz questão da promessa lembrar. Tu jurou minha mão não soltar. E se foi junto dela. Ei, ‘cê não sabe a falta que faz. Será que teus dias tão iguais? Eu me pego pensando. Ai, amor. Será que tu divide a dor. Do teu peito cansado. Com alguém que não vai te sarar?”. Em “Por Que eu Te Amo”, Anavitória traz um belo violão e uma letra que traz em minha opinião, certa influência de Nando Reis, um dos maiores compositores e poetas do Pop Rock Brasil. Vale lembrar que ele e as meninas já fizeram um show juntos. A letra é ótima. “Eu poderia acordar sem teu olhar de sono. Sem teu lábio que é dono. Mas eu não quero. Eu não quero. Eu poderia encantar qualquer outro par de ouvidos. Não te ter mais aqui comigo. Mas eu não quero não. Eu não quero. Poderia imaginar”.
Em “Calendário” elas continuam com o mesmo tom, mas reforçam o romantismo que também está claro no primeiro álbum. Mais uma melodia com vocais perfeito. “Não se arrisque em tentar. Me escrever nas suas melhores linhas. Eu não preciso de altar. Só vem repousa sua paz na minha. Eu já te disse alguma vez. Tu tem pra mim o nome mais bonito. A boca canta ao te chamar. Teu canto chama o meu sorriso. E ‘tá tão fácil de encaixar. Os teus cenários na minha rotina. No calendário passear. O fim de tarde em qualquer esquina. Tão natural que me parece sina. Vem cá. Te sinto seu ao se entregar. Me tenho inteira pra você. Te guardo solto pra se aventurar. É tão bonito te espiar viver. Se encontra, se perde, se vê”.
Com “Outrória”, elas trazem a participação da banda “OutroEu”. Mais uma letra destacável do álbum. O talento vocal delas é indiscutível e em mistura com os vocalistas Mike Tulio e Guto Oliveira, mais ainda. “Teu olhar é trapaça mistério, previ. Pois é. Me tira o chão. O meu ar te embaça de perto. Senti o que é amor então. Eu nunca vi ninguém. Fazer tanto barulho num só coração. Teu cuidado é desastre. É zona sem hora, sem onde. E agora. Quando vi, já veio sim. Tomou parte de mim. Levou embora o meu pesar. Teu ver me encanta, enfim. Canta perto de mim. Tua voz amansa o teu olhar. Tua fala transpassa. O mistério em ti, teu pé. Fora do chão”.
“A Gente Junto” traz batidas mais calmas e uma guitarra incrivelmente dosada com o vocal doce e tranquilo de Anavitória. Mais uma letra incrível. “Acorda, meu bem. Amanhã já é outra história em paz. Vamos viver o agora. Tudo bem. Na cama a gente se demora, demais. Depois a gente inventa a hora. Pra viver. O caos que mora fora de você. A pressa que ninguém deveria ter. Pra estar no mundo. Perceber. Que nunca é demais um carinho. Que junto é melhor que sozinho. E a gente junto. É muito bom”.
Com a faixa “O Tempo é Agora” nome do álbum, elas continuam dando o tom. Não achei a melhor faixa, mas não minto, é bem pop. Que diga o refrão animador. “Já faz um tempo que eu não sabia. O que era ser de mim. E todo dia. Me dividir, fazer luar. Desconstruir ideia. Se chega perto agora é só folia. Se vê de longe a minha alegria. Eu tenho fé pra caminhar. Eu tô aqui. Eu posso estar em qualquer lugar. Em qualquer lugar. Uhh. Todo esse tempo eu nem me conhecia. Me fiz um outro e nem por que sabia. Eu me perdi pra me encontrar. Agora eu sou e sinto estar. Vivendo tudo a cada passo lento”.
O álbum segue com a música “Preta” trazendo todo aquele romantismo, “Canção de Hotel” e “Cecilia”, que é quase um desabafo de um amor perdido. A letra é bem forte e mostra o estilo inconfundível das meninas. Com “Dói Tanto” elas trazem mais uma ótima letra em meio aos instrumentos muito bem conectados. Aposto nessa canção como um hit indispensável nas rádios. A letra também é ótima. Para fechar o álbum elas trazem “Se Tudo Acaba”, mais uma faixa romântica que mostra toda a maturidade e profissionalismo musical. Em minha opinião, mais um hit que vale a pena e tomara que toque nas rádios.
Avaliação >>
Por ser o segundo álbum de Anavitória, poderia soar pretensioso dizer que é o melhor trabalho que escutei recentemente. Mas, com certeza “O Tempo É Agora (2018)” figura entre os melhores discos que escutei até então na MPB. Com sintonia vocal e letras muito bem escritas, o álbum traz hits que indico com toda certeza, como, “Aí Amor”, “Porque eu te Amo”, “Calendário”, “Outrória”, “O Tempo É Agora”, “Preta” e “Se Tudo Acaba”. Avalio com cinco estrelas (máxima), pois, por fazerem parte da nova safra da música, elas demonstram maturidade, preparo e acima de tudo talento para compor daí para frente uma discografia impecável. Se era preciso ter um trabalho para selar o duo na música, “O Tempo É Agora (2019)” foi a tacada certa. Álbum disponível no formato físico, Deezer e Spotify.
Crítica Musical | Por: Felipe de Jesus | Jornalista e Colunista | Fotos: Anavitória