Circulação de trens suspensa em dois ramais causa tumulto em estações da Supervia
Composição parou próximo à estação de Quintino, e as pessoas caminharam sobre os trilhos para a plataforma; reflexos afetaram ramais Santa Cruz e Japeri.
Com uma composição do ramal Santa Cruz parada entre as estações de Quintino e Cascadura, na Zona Norte do Rio, passageiros precisaram caminhar por entre os trilhos da Supervia na manhã desta quinta-feira. De acordo com a concessionária, o dispositivo de segurança de um trem foi acionado por volta das 6h30 da manhã. Com o acionamento, que ainda não teve causa definida, a composição paralisou.
Segundo a empresa, os passageiros começaram a acessar indevidamente a linha férrea devido à paralisação. Por isso, os demais trens foram afetados e precisaram aguardar ordem de circulação. A ocorrência causou caos nas estações. Vídeos publicados nas redes sociais mostram o momento em que passageiros revoltados depredam composições utilizando dormentes da linha férrea, em Deodoro, após a circulação de trens dos ramais Santa Cruz e Japeri ser suspensa. No início da tarde, a Supervia divulgou, em nota, que a interrupção se deve a “atos de vandalismo contra o sistema ferroviário”.
— (Estamos) tendo que andar até a estação de Quintino — disse revoltado um dos passageiros, que registrou sua caminhada pelos trilhos, depois de desembarcar dos trens.
Na tarde desta quinta-feira, a Secretaria de Estado de Transportes afirmou, em nota, que “a omissão da Supervia em prestar esclarecimentos céleres é inaceitável”, e que a secretaria encaminhou carta à concessionária solicitando a apresentação das “razões que culminaram no episódio”, além de um plano de contingência que deve ser apresentado em reunião presencial.
Pelas redes sociais, quem estava a bordo da composição mostrou o transtorno pelo qual passava por volta das 7h desta quinta-feira.
Uma passageira, ao mostrar o trem parado, comentou insatisfeita: “E lá vamos nós de carro de aplicativo”.
Nos trilhos, uma idosa teve dificuldades para caminhar e precisou ser carregada. À equipe de reportagem do telejornal “RJ1”, a aposentada Jandira Ortêncio contou que saiu de casa por volta das 5h, acompanhada de seu esposo, para realizar uma cirurgia.
“O trem estava bem lento, bem lento. Chegou em Quintino e quebrou de vez. Os passageiros me ajudaram a descer porque é alto, né? Eu caminhei um pouquinho mas não deu, a perna foi doendo, doendo, doendo, foi quando me pegaram”, contou a idosa.
O ajudante Alfredo Muniz disse ao telejornal que o problema é recorrente. “Do nada para, toda vez tá acontecendo isso. Não tem trem expresso, só parador. Uma senhora tá ali e nem a Supervia veio para ajudar, só a gente tava ajudando. Se a gente não abrisse a porta de emergência estariamos lá até agora”, relata.
Passageiro da Supervia, Rubenilson Rubens estava na estação Deodoro e falou sobre como o problema atrapalha a rotina profissional. “O patrão não quer saber, não. Você tem que chegar no horário. A gente depende do trabalho. Se for mandado embora, eles vão fazer o que? Não quebrou só hoje, já vem de tempos. Quando não quebra, para 20 minutos, 15 minutos, e ninguém tá aí para a gente. Ninguém respeita o trabalhador”, diz.
Outros passageiros comentaram a situação nas estações e definiram como “covarde” a atitude da concessionária. “Não sou a favor de vandalismo, mas a Supervia testou muito a fé dos outros (…) Covardia”, escreveu uma usuária no Twitter. “Isso aí se chama tortura contra os passageiros. O que vocês fazem todo dia. Supervia, você é uma vergonha”, disse outro usuário.
Em nota, a Polícia Militar disse que foi acionada durante a manhã para verificar o protesto na estação de Deodoro. A corporação afirma, também, que os agentes acionaram o Corpo de Bombeiros para combater focos de incêndio em três linhas férreas da estação. O fogo foi cessado e a linha desobstruída. Não houve registro de prisões durante a ação.
No início da tarde, a Supervia informou que os ramais afetados ainda voltaram a funcionar, e que o restabelecimento da circulação normal será gradual durante o dia.
Composição parada
Passageiros relatam que a composição do ramal Santa Cruz parou entre as estações de Quintino e Cascadura e, sem saberem o motivo da parada, decidiram desembarcar. De acordo com a concessionária, os passageiros acionaram o alarme dentro do trem e se dirigiram à linha férrea.
“O trem simplesmente parou, não tem nenhuma informação, as pessoas abriram a porta e estão descendo no meio da linha”, publicou uma passageira, ao mostrar as pessoas pulando de cima dos trens para a linha férrea.
@SuperVia_trens e aí supervia, qual a posição para o trem santa cruz sentido central do Brasil que está parado no meio da linha, entre cascadura e Quintino. O trem simplesmente parou não tem nenhuma informação, as pessoas abriram a porta e estão descendo no meio da linha pic.twitter.com/e3DM6Vgz7T
A estação de Quintino faz parte do ramal Santa Cruz, que nesta manhã só contou com trens paradores devido a uma ocorrência no sistema de sinalização, conforme publicou a Supervia em suas redes sociais.
A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do RJ (Agetransp) informa que irá apurar as “circunstâncias da avaria” da composição, para analisar as causas da falha e os serviços prestados pela SuperVia.
A plataforma da estação de Deodoro ficou lotada — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
Outras estações com problemas
Com a ocorrência na estação de Quintino, os reflexos foram sentidos por todo o sistema dos ramais Santa Cruz e Japeri. Na estação de Deodoro, abastecida pelos dois ramais, objetos também foram lançados na linha férrea, como forma de protesto de quem estava a caminho para o trabalho.
Em Deodoro, placas foram arremessadas na linha férrea como forma de protesto — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
Em Realengo, na Zona Oeste, passageiros do ramal de Santa Cruz enfrentaram estações lotadas. Ironicamente, uma passageira comentou: “Obrigado, SuperVia”
Estação de Deodoro fechada, manifestação em Quintino, incêndio, multidão. Vem de trem 😃
Obrigada supervia 🥱 pic.twitter.com/khRMJeNsCZ