Constantemente recebo material de pessoas que fazem festas de aniversário com temas de seu cotidiano: supermercado, ônibus, bairro, botecos são usados como decoração para esses tipos de confraternizações e até casamentos.
Percebo, desde que comecei a criar conteúdos que deram origem à página Suburbano da Depressão, no Facebook, que as redes sociais entraram em nossas vidas não só como um meio de entretenimento, mas também como uma ferramenta que facilita a formação de uma identidade, sendo um local para que pessoas comuns relatem o seu dia-a-dia. Mesmo que de forma despretensiosa, a criação desses relatos acaba sendo potencializada pelo impulsionamento gerado pelos compartilhamentos e retweets.
A força dada às redes sociais como primeira fonte de consumo de conteúdo proporcionou a quebra do monopólio de narrativas liderado pela televisão, como foi observado por um amigo, o Diego Paiva, em sua página. Ele mostra que, sabendo que perdeu posição como formadora de opinião exclusiva, a Rede Globo, por exemplo, levou para dentro de sua programação os memes por meio de “invasões”, como acontece no Fantástico e no Tá No Ar. Não devemos esquecer o grande espetáculo político-eleitoral que as redes vêm proporcionando desde o início da década de 2010. Nessa questão política, as plataformas já são decisivas no debate eleitoral, trazendo para dentro da discussão o eleitorado que antes não se interessava.
O cotidiano, e principalmente o cotidiano dos subúrbios do Rio de Janeiro e dos municípios da Baixada Fluminense, que antes era colocado como um peso morto sobre a vida de seus habitantes, ganha um destaque maior e para além dos roteiros de novelas e pautas de jornais. Quem produz conteúdo, hoje, é o cidadão com um celular na mão, os mesmos que se alimentavam das pautas dos jornais e roteiros de novela de horário nobre.
Como tudo o que o ser humano inventa acaba tendo sua utilidade tanto pro bem quanto pro mal. Não podemos – e nem devemos – esquecer que, apesar das plataformas permitirem a potencialização desse cotidiano antes invisível, a onda de medo ganhou força através dessas ferramentas, tendo como grande difusor as páginas de bairro e grupos de WhatsApp.
E o que podemos perceber através dessa nova modalidade de construção? A retomada do cotidiano por aqueles que protagonizam suas experiências é a marca dessa segunda década do século XXI. O desgaste da velha narrativa da programação da tv fortaleceu essa nova forma de escrever a história e relatar o corriqueiro, aquilo que está bem próximo de nós. O encontro entre experiências pessoais e as novas tecnologias de informação não só contribuem para a formação das redes virtuais, mas também para a possibilidade de se concretizar redes pessoais e, assim, permitir que o cotidiano ganhe fibra e destaque na vida do cidadão que vive nele e dele se alimenta.