Muito se falou a respeito da alta do dólar, moeda que teve seu valor nominal, ao final de novembro, em torno de R$ 4,25. Com isso, criou-se uma verdadeira guerra política, alguns culpando o governo pelo alto valor dessa moeda, que é usada como padrão monetário internacional e outros dizendo que em governos passados o valor já foi maior. Será que a desvalorização do real é mesmo uma catástrofe?
Os economistas costumam errar em suas projeções de variáveis macroeconômicas, isso é um fato. Alguns chegam a dizer que o comportamento humano não é previsível e, por esse motivo, a economia nem mesmo deveria sofrer interferência.
Bom, essa discussão certamente renderia a qualquer grupo de estudiosos muitas horas e, dependendo de sua disposição a fazê-la, dias, meses, anos… contudo, há uma grande chance que ao fim não chegassem a um consenso a respeito do assunto.
O que é quase um consenso é que se há uma coisa que põe qualquer economista em uma saia justa, essa coisa é tentar prever ou projetar o futuro da taxa de câmbio.Desde o ínicio dos anos 2000, o Brasil adota o regime de câmbio flutuante, isso significa que o preço do dólar varia de acordo com a oferta e demanda por esta moeda e há inúmeros fatores que podem influenciar sua flutuação, sejam eles econômicos, políticos ou sociais. São tantos fatores que tornam ele, em certo ponto, imprevisível, apesar da possibilidade de interferência do Banco Central nesse mercado.
Durante boa parte da nossa história, manter o câmbio desvalorizado foi uma política constante por aqui. Principalmente até no ínicio do século XX, quando nossa economia girava em torno do café. A linha de racíocinio para uma política dessas é até relativamente simples: como a economia era baseada nesse produto e a exportação dele era fundamental para o país, com uma queda na renda mundial que reduzisse o preço do café, o governo desvalorizava o câmbio, de modo que o preço pago pelo produto no mercado externo se convertia em um valor maior em moeda nacional, garantindo a margem de lucro elevada para esse setor que era o mais importante até o momento.
Em um passado mais recente, a valorização da moeda nacional também foi importante. Ao lançar o Plano Real, era de fundamental importância manter a nova moeda valorizada, pois, isso garantiria o controle da inflação e isso foi feito. Porém, o longo período com a moeda valorizada foi críticado por alguns analistas como sendo responsável pela detrioração da balança de pagamentos e houve uma grande pressão para adoção do câmbio flutuante para que a moeda pudesse ser desvalorizada.
Logo, pode-se concluir que a desvalorização da moeda, por si só, não significa muita coisa. Se isso é benéfico ou não para o país dependerá de diversos fatores. Caso a desvalorização seja vista como um problema, há possibilidade da intervenção do Banco Central na tentativa de manter um equílibrio satisfatório. O principal objetivo de um Banco Central é controlar o aumento dos preços (inflação), a alta do dólar poderia resultar em uma alta nos preços nacionais, pois, as importações se tornam mais caras. Contudo, diante das circunstâncias – consumo que não vinha reagindo a queda na taxa de juros, crescimento decrescente do PIB, etc.- não parecia haver por parte dos empresários condições favoráveis para repassar o preço aos consumidores, resultando, assim, em apenas uma queda na margem de lucro para mesmos e uma inflação contida, o que pode explicar uma manutenção de queda da taxa de juros mesmo diante desse quadro, com um BC pouco atuante para reverter a alta, mesmo com uma interferência em certo momento.
Existem diversos motivos que podem explicar o pico do dólar ao final do último mês, são eles: guerra comercial entre EUA e China, frustração com o resultado do leilão do pré-sal, até algumas falas do ministro da economia podem entrar para esse conjunto. Muitas das possíveis causas são externas e não são necessariamente “culpa” do governo.
Sendo assim, fique tranquilo, não é o fim do mundo. Inclusive, o dólar já está próximo aos R$ 4,00 e o nosso bode expiatório agora parece ser a carne.